Ter autonomia para organizar o cotidiano e, assim, conseguir conciliar trabalho, atividades pessoais e cuidado com os filhos é um dos principais fatores que levam muitas mães a empreender. No entanto, há vários outros desafios, lutas e conquistas na trajetória da vida de cada uma. Às vezes, esses caminhos são compartilhados.
A trajetória de Ana Patrícia Vasconcelos, Márcia Nóbrega e Laryssa Souza se cruzam de forma especial: suas filhas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) foram as grandes inspirações para que elas criassem seus próprios negócios. Com sensibilidade, força e propósitos bem definidos, elas atuam pela conscientização, lutam por políticas públicas e transformam o mundo.
Professora e pedagoga, especialista em Matemática e autismo, Ana Patrícia Vasconcelos, de 47 anos, morava em Fortaleza (CE). Há pouco mais de uma década, ela precisou se mudar para Belém (PA) e estava se preparando para entrar no mercado de trabalho. Porém, veio a maternidade e depois o diagnóstico do autismo da filha Ana Luiza, hoje com 11 anos. Para cuidar e dar o suporte que a filha necessitava, ela precisou abandonar a carreira e passou a se dedicar à maternidade em tempo integral.
“No período em que veio o diagnóstico, eu estava me preparando para um concurso, mas precisei cuidar da minha filha, levando para as terapias, então resolvi sair do mercado de trabalho”, lembra Patrícia.
A inquietação em produzir e desenvolver algum negócio próprio, principalmente algo que contribuísse com o desenvolvimento da filha, passou a ser constante nos desejos de Ana Patrícia. Veja como tudo começou:
Conciliando a maternidade e o empreendedorismo
O início de um empreendimento nunca é fácil. Porém, em muitos casos, esta luta é ainda mais complexa e difícil. Contudo, o que poderia provocar medo e insegurança, teve efeito contrário: aproveitando seus conhecimentos e experiência, Ana Patrícia passou a produzir materiais pedagógicos adaptados, que atendessem sua filha e outras crianças com desafios semelhantes. O medo e risco deram lugar ao prazer de ajudar e contribuir com o desenvolvimento de mais pessoas. Com profissionalismo e dedicação, os pedidos por seus produtos começaram a chegar e o negócio, alavancar.
“Quando começaram a chegar os pedidos foi algo muito especial. Fiquei muito feliz em poder levar esses materiais para outras crianças e adolescentes. Eu comecei a me envolver mais com essas famílias, conhecendo a demanda de cada uma e adequando o meu material a demanda de cada família, de cada criança”, conta.
E não parou por aí. Os materiais, que antes eram pedidos apenas pelas famílias, chegaram até consultórios médicos. “Os terapeutas conheceram e começaram a solicitar também porque viam que o produto estava fazendo a diferença durante os atendimentos, na vida das crianças”, celebra Ana Patrícia. Veja o vídeo:
A pedagoga não está só. Entre os principais sonhos dos brasileiros em 2020 e 2021, segundo um relatório feito pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) – maior pesquisa de empreendedorismo do mundo – divulgado pelo Sebrae, está o de “ter o próprio negócio”, ocupando a terceira colocação no ranking (64%), ficando atrás apenas de viajar pelo Brasil e comprar a casa própria.
Ainda de acordo com o relatório, o número de empreendedores brasileiros à frente de um negócio com mais de 3,5 anos voltou a crescer no país. A divulgação dos resultados integra o calendário do Projeto Sebrae 50+50, voltado para a celebração do cinquentenário da instituição, fundada em 1972.
Mas, apenas o desejo de abrir um próprio negócio e de ganhar dinheiro não farão seu empreendimento conquistar bons resultados. É preciso ter um motivo, um propósito que permitirá ter maior probabilidade de ser promissor no mercado, segundo aponta Allonny Farias, analista do Sebrae no Pará. Confira o vídeo:
Artesã autista e com Síndrome de Down: inclusão no mercado de trabalho
Inclusão! Palavra tão pequena que carrega um significado gigante para Márcia Nóbrega, de 57 anos, que desde o nascimento da filha não mede esforços para garantir a igualdade de oportunidades e para que a menina possa alcançar seu pleno potencial na vida.
Carolina Nóbrega, hoje com 33 anos, nasceu com Síndrome de Down. O diagnóstico de autismo veio tardio, quando ela tinha 18 anos de idade. Diante disso, Márcia, que é administradora e atuava na área, precisou parar de trabalhar para se dedicar aos cuidados com a filha.
“Depois de um mês, começamos a correr atrás de terapias para que a Carolina tivesse oportunidades de viver uma vida normal, adequada aos limites dela dentro de uma sociedade”, explica a mãe. Confira como foi esse processo:
Com muito incentivo, garantindo a igualdade de oportunidades e caminhando juntas, Márcia e Carolina mostram que a inclusão social é possível, alcançando inclusive práticas de empreendedorismo. Hoje, nem as limitações provocadas pela Síndrome de Down e do autismo impedem Carol, como é conhecida, de ser artesã, empreendedora. Criativa e com vontade de vencer, ela segue desenvolvendo suas atividades através do empreendimento Amorarte. Conheça a trajetória:
Após notar a filha Carolina sendo reconhecida, vista como parte integrante da comunidade e inserida no mercado de trabalho, Márcia Nóbrega se viu inspirada pela menina e também decidiu empreender, trabalhando como artesã e com a produção e beneficiamento de cacau e açaí. Conheça a história e como o Sebrae auxiliou:
No entanto, por vezes, infelizmente mães e filhos não possuem suporte familiar e afetivo necessário para progredirem em seus objetivos. Assim, necessitam se fortalecer ainda mais e enfrentar desafios que vão além do empreendedorismo, mas tocam a vida como um todo.
Desafios na vida e no mercado
Imagine a situação: iniciar o curso em uma faculdade e entrar no mercado de trabalho, além de ter um relacionamento. Tudo parece “perfeito” e tranquilo, não é mesmo? No entanto, a estabilidade financeira e afetiva pode ser rapidamente alterada, provocando reações e mudanças na vida da pessoa.
Foi exatamente isto que ocorreu com Laryssa Souza, 34 anos, que fazia faculdade de Comunicação Social e trabalhava em uma empresa de eventos.
Ela virou mãe solo após o nascimento da filha Bárbara Reyphs, autista, hoje com 9 anos. Gerenciar tempo e atenção, cuidando da família e da empresa faz parte do perfil de uma mãe-empreendedora.
Laryssa decidiu empreender após o nascimento da filha, pois estava desempregada e necessitou trancar a faculdade. Foi na internet que ela buscou referências ,e a partir das necessidades da filha e das famílias que estavam ao seu redor, identificou o nicho que poderia atuar.
“Eu comecei fazendo camisas, caixas de MDF pintadas e brindes diversos até que chegou a loja de produtos para pessoas com autismo”, lembra ela. Saiba mais:
Uma nova geração de empreendedores está conquistando seu espaço no mundo dos negócios, apostando no empreendedorismo com propósito, seja ele pessoal, ou promovendo impactos positivos na sociedade.
Além de criar seus próprios produtos e serviços com a visão que ultrapassam os lucros, Laryssa agrega valores sociais e faz com que eles se tornem sólidos diante das mudanças e inovações do mercado.
Empreendedorismo social, economia colaborativa e os benefícios para os pequenos
Para Patrícia, Márcia, Laryssa e tantas outras mães de autistas, empreender não significa apenas criar um negócio, gerar lucros ou dar retornos financeiros. É preciso ter um propósito. Empreender é missão!
A necessidade virou oportunidade em um cenário de crise não apenas para melhorar ou garantir a renda da família, mas principalmente para transformar o mundo através de inclusão, em uma relação que ultrapassa a família e alcança o mercado. Veja o que diz o especialista do Sebrae:
A oportunidade de reunir várias empresas para trabalhar em conjunto e gerar uma boa experiência para os clientes resultou na loja colaborativa do grupo Mundo Azul, que surgiu antes da pandemia, em 2019, que oportuniza a comercialização de produtos elaborados por famílias e pessoas autistas.
Criado para trabalhar com melhorias no atendimento de pessoas com TEA, o grupo Mundo Azul reúne, atualmente, cerca de 400 mães. Foi participando de eventos, feiras e demais espaços de economia criativa, que as mães viram a oportunidade de conscientizar as pessoas sobre o autismo.
“Esse momento em que a gente está reunida como loja colaborativa do grupo Mundo Azul em um evento é algo indescritível. Nós nos damos as mãos e parece que nunca estivemos sozinhas. Isso faz todo sentido”, explica Ana Patrícia, que faz parte da loja colaborativa junto com Márcia e Carolina Nóbrega, Larysa Souza e Mônica Sedina. Confira o vídeo:
Conhecer para acolher!
O empreendedorismo feminino vem ganhando destaque e surpreendendo nos últimos anos. As mulheres que decidem empreender, eu sua maioria, resolvem dar esse passo para terem a oportunidade de estarem mais próximo dos filhos, algo impossível, por exemplo, quando estão em uma empresa tradicional.
Mulheres e mães valorizadas, fortalecidas, capacitadas, focadas e que se preocupam em prestar o melhor serviço ou produto. Mães que se empoderam cuidando da família, dos filhos e de suas empresas, que desejam voar alto e sonham com um mundo mais justo, igualitário, sem rótulos e inclusivo. Veja o relato emocionante:
Transformação digital: tendências para pequenas empresas
Não há como negar que o empreendedorismo vem crescendo, principalmente na modalidade digital. É por meio da Internet, que muitas pessoas passaram a ver uma oportunidade de driblar a crise financeira ao criarem seus próprios meios de trabalho.
Para o analista do Sebrae no Pará, Allonny Farias, hoje, os pequenos negócios são a bola da vez do mercado. Segundo ele, a tecnologia está entre as tendências do empreendedorismo, que vieram para ficar.
Transformação digital: outras formas de comunicar
“A gente está vivendo um momento em que as tecnologias se adaptam as necessidades das empresas, seja de vendas, de posicionamento na internet. É inimaginável a gente pensar uma empresa fora do digital hoje porque tem muitas soluções digitais que você consegue ter um micro site, ter um processo de vendas estruturadas e isso faz com que essas adaptações sejam muito benéficas para os pequenos negócios”, ressalta. Veja as dicas do especialista:
Reportagem: Andressa Ferreira
Edição e direção: Enderson Oliveira
Edição Multimídia: Emerson Coe
Coordenação Sênior: Ronald Sales
Coordenação Executiva: Mauro Neto
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